sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

A agua da vida


Imagino-me, uma gota a percorrer o infinito deserto de um rio, apenas um misto cientifico de moléculas, átomos e todas esses aspectos técnicos que nada veem nada ao acaso. Corro, nado e voarei, suado do esforço de estar entre uma multidão de mil e ser único e importante para pertencer ao todo. Sou o amor entre os amantes e a simplicidade de existência, a vida correndo para o mar, e o mar, quão belo e poderoso que é, ele também um amante secreto que está apaixonado pela lua, onde por vezes, se tocam e se beijam no horizonte para proporcionar um orgasmo visual a quem partilha o momento. Acorda, estou a passar nos teus dedos e estou-te a matar a sede, essa tua necessidade para viver e respirar, tal como a necessidade que um ser humano tem de amar. Eu, uma gota entre mil, escolheste-me. Assim sou o que quero ser e o que posso ser, sou a tua sede e o teu desejo, o teu rio que flui para desabrochar no teu oceano. Escolhesmo-nos...
...Quadro: Do lago, Georgia O’Keeffe...

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

A necessidade de voar


Escrevo porque preciso, não porque quero. Os dedos ganham asas como quem paira no ar e olha um lago gelado numa manhã ártica onde tudo é sentido e suave. Um livro é sem dúvida o nosso melhor amigo quando nele deixamos lá todos os nossos erros passados, despidos e crús. É um lembrete, uma sentinela sensorial, um relógio despertador que nos acorda todas as manhãs para nos lembrar que nunca é tempo para desistir mas que é sempre tempo de tentar emendar o que fizémos de mal. O tempo é, no fim de contas, o nosso melhor amigo, uma obra prima sem rosto mas ao mesmo tempo com milhares porque todos nós somos o tempo e o tempo é nosso. Escrevo por necessidade. Escrevo porque se não escrever morro por dentro e lá dentro, mesmo no fundo quero viver. Recuso-me a morrer. Nas veias corre-me o sangue quente que me aquece a alma e serve como tinta para escrever histórias de lutas, desabafos e afins. Dizem que a necessidade é um mau negociador, talvez seja verdade, talvez não, mas é o que é, uma necessidade efémera porque de sonhos vivemos todos... Todos nós temos necessidade de voar... Voem...
...Quadro: Gaivota da antártida, Toshi Yoshida...

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

O ser


Este é o despertar que tanto anseio, o instante em que sinto a vida preencher-me de extremo a extremo. Sou um para-sol, sou uma sintonia de frequências, completamente livre e despido de interferências. Sou o sol e a chuva que lava a vida e nos faz quimicamente romanticos. Sou o sal que sabe a doce e ao sabor do vento sou um pensamento, único e indecifrável por livros e aprenderes comuns. Sou uma faca que corta e dá vida, sou o papel que aínda não foi escrito, sou o silencio dentro de um grito. Sou tudo que no nada se imagina, sou uma alma libertina, sou deus, sou diabo, o mal, o bem, o ser...
...Quadro: A Vida, Pablo Picasso...

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

A guerra


Poderia escrever milhões de palavras, mais que as estrelas que enchem o céu que todos um dia desejámos, mas poupo a procura incontrolável porque tudo se resume a uma palavra, amor... se um dia chorei, foi por amor e tudo o que este me causou, se um dia me descontrolei e dei um murro na mesa, foi por amor e por amor foi que disse e sinto que te amo. Agora não sei o que resta nesta guerra sem cessar fogo onde cada palavra mata e cada sentimento fere. Imagino-me no meio de um campo de batalha em que não sei se estou a lutar ou estou a morrer, e sinceramente, às vezes tampoco importa, o que importa é o amor, porque por ele me arrasto e luto para sobreviver. Um dia disparei uma arma directa ao teu coração e feri-te, de morte, mas como um lobo, lambi-te a ferida e luto para ela sarar e se tornar uma cicatriz duma batalha vencida. Celebraremos nós?
...Quadro: A face da guerra, Salvador Dali....

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Os amantes


Não quero ser apenas um amigo, vulgarizado ao qual emites questões sensoriais e privadas em que se cruzam mistos de raiva e amor. Não consegues evitar, não consigo parar de pensar que poderia ser diferente, poderia naquele momento ter-me desviado da tentação passada de efectuar transmissão. Desculpa por tudo... Não quero repetir, és única e como única que és quero-te e desejo-te. A ansiedade de não saber o amanhã castiga-me o ter-me apercebido do ontem e o ontem enterrou-nos e o amanhã tenta desenterrar nossos corpos pensativos, duvidosos e sentimentais cada um pelas suas razões. Sinto-nos amantes, mais do que eu ou tu podemos alguma vez conceber. Algo mais forte que a própria vontade de sentir.
...Quadro: Os amantes, René Magritte....